"Uma vida não questionada não merece ser vivida." (Platão)

Salmos 1
1 Felizes são aqueles que não se deixam levar pelos conselhos dos maus, que não seguem o exemplo dos que não querem saber de Deus e que não se juntam com os que zombam de tudo o que é sagrado!
2 Pelo contrário, o prazer deles está na lei do SENHOR, e nessa lei eles meditam dia e noite.
3 Essas pessoas são como árvores que crescem na beira de um riacho; elas dão frutas no tempo certo, e as suas folhas não murcham. Assim também tudo o que essas pessoas fazem dá certo.
4 O mesmo não acontece com os maus; eles são como a palha que o vento leva.
5 No Dia do Juízo eles serão condenados e ficarão separados dos que obedecem a Deus.
6 Pois o SENHOR dirige e abençoa a vida daqueles que lhe obedecem, porém o fim dos maus são a desgraça e a morte.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

IGREJA, PRA QUÊ IGREJA?


Por Pr. JOSÉ ERNESTO CONTI, um amigo da formação teológica, publicado na revista comunhão. nº 178.

Vivemos dias em que a liderança evangélica está refém de um tipo de crente que tem destruído os cultos nas igrejas. Gastamos muito tempo e dinheiro para agradar a esse “público”, que só quer culto que lhe agrade. Com um bom sermão de autoajuda, com um louvor agradável e com um ambiente refrigerado e gostoso.
Interessante e curioso é que para os católicos o importante é ir á missa. Não importa muito o que fala, se a igreja tem ar-condicionado, se há um bom louvor. O que importa é ir à missa, mesmo que seja às 6h, que tenha que subir um ladeirão, que tenha que pegar três ônibus ou andar 5 Km. O importante é ir à missa.
Não estou fazendo apologia da missa, mas é que na contramão religiosa, os crentes estão avacalhando o culto e, por tabela, a Igreja. Com a proliferação de Igreja evangélicas em cada esquina, tenho percebido que muitos crentes não são mais “apaixonados” por sua igreja como era antigamente. Não enchemos mais o peito para falar da “minha” igreja. Na verdade, parece que há  uma indiferença quanto a pertencer à igreja presbiteriana ou alguma pentencostal, ou batista. Parece até que é pecado falar que é batista ou assembleiano. Hoje, crente que é crente é só crente.
O cristão de hoje está se sentindo um cidadão interdenominacional, ou seja, ele freqüenta onde quer, quando quer ou onde esteja se sentindo bem, onde nada esteja incomodando, nem tenha que fazer alguma coisa na igreja, ou assumir algum cargo, e mesmo que tenha cargo, ele deixa claro que é só por questão de projeção pessoal, e não para fazer alguma coisa. Se o pastor fizer um sermão exortativo, então é que as coisas esquentam e sai reclamando: “já estão pegando no meu pé”.
Como dizem que tudo sempre tem o seu lado bom, fico imaginando qual é o lado bom dessa situação. Sei que igreja nenhuma salva, que todas as igrejas têm falhas, que a liderança muitas vezes atrapalha o crescimento do reino, que algumas têm erros doutrinários e até fazem coisas contrárias ao que está na Bíblia etc. Mas não amar sua igreja é uma falta gravíssima (perde muitos pontos na carteira do céu) . é gravíssima porque a igreja não foi criada para agradar.
Se existe na igreja algo que incomoda, ou alguém que nos chateia ou deixa amargurado, em 100% dos casos, a falha é totalmente minha. Somos nós que precisamos perdoar, somos nós que temos que andar a segunda milha ou dar também a túnica. A nós foi dado o “privilégio” de padecer por Cristo (Fl. 1:29), de nos alegrarmos por sofrer afrontas por causa do nome de Cristo (At. 5:41) ou, na linguagem de Pedro, devemos nos alegrar na medida em que somos participantes do sofrimento de Cristo (1 Pe 4:13).
A maioria dos crentes está naquela classificação de “não levo desaforo pra casa. Jogou piadinha, leva na hora”. O pastor precisa ser sábio e fazer malabarismo para falar algo que precisa, sem deixar ninguém chateado.  Crente chateado fica bicudo e não volta mais. Perdemos totalmente a noção do que é igreja.
Não estamos indo à igreja só para adorar a Deus, mas para que as pessoas ali me tratem como se eu fosse o rei do pedaço, o mais importante no culto. Se não me tratar bem, eu vou embora, não pago o dízimo e largo essa igreja, até porque, pra que igreja, se eu sou é crente?                  

quarta-feira, 30 de maio de 2012

MOTIVAÇÃO E DESEMPENHO


Texto base. João 6:60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? João 6:66-69 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus.

Se buscarmos uma aplicação para Motivação e Desempenho, vamos encontrar bastante elementos na área empresarial, treinamento de equipes, vendas etc. Entretanto, quero usar o termo para uma aplicação cristã.

Bom, precisamos refletir sobre os elementos motivadores do Evangelho, aqueles usados por Jesus na condução de sua equipe. Quais eram as recompensas? O que motivava tais homens?

Se faz necessário saber o que lhe motiva a ir à igreja, a estar em comunhão com outras pessoas, a adorar e louvar a Deus em comunidade, a servir a Deus através das atitudes e do amor ao próximo.

Só para ficar mais claro, a motivação está baseada sempre em recompensa, uma gratificação, uma promoção, descontos, até mesmo sua foto no quadro de funcionário do mês.

Agora, infelizmente, na vida cristã os benefícios não são tão imediatos e parece que isto tem feito a diferença no meio eclesiástico, pois fazemos parte de uma sociedade imediatista.

As promessas de Jesus são para vida eterna - “ressuscitarei no último dia” (v.54) - e na verdade isto fica muito longe em relação às expectativas imediatas. Este texto de João 6 é muito rico na aplicação da prática cristã. Nos alerta que não podemos mudar em nada a mensagem do Evangelho. Não podemos diminuir a responsabilidade, o comprometimento e o engajamento dos futuros discípulos - “muitos, pois, dos seus discípulos. Ouvindo a verdade, disseram: Duro é este discurso; quem pode ouvir?"(v. 60, 66)

Ou seja, o que os discípulos estavam dizendo era: estas “recompensas” não nos motivam a continuar a caminhada contigo, Jesus. O engraçado é que todas as vezes que reclamo por não receber imediatamente o que espero, da vida eclesiástica, do ministério, etc., ouço a mesma pergunta: “Você também não quer ir?” (v.67). E então a minha resposta é a mesma de Pedro... e me permito ser lapidado, preparado. Existe uma poesia que diz “Ao andar faz-se o caminho”... de António Machado. Existe um alvo, uma recompensa que só será alcançado por aquele que dispõe ser discípulo de Jesus, motivado a desempenhar o que lhe fora confiado pelo seu Senhor. Ide!

Concluindo, não podemos perder o valor da grande promessa, “Vida Eterna”, tudo aqui é corruptível, nos buscamos algo muito além. Nosso desempenho na proclamação do evangelho comprova nossa fé, a crença nas palavras de Jesus, nos torna não somente “vitoriosos” mais também participantes Dele em Sua dor, sofrimento e ressurreição. Assim, o fazer, o realizar sem esperar recompensas imediatas se torna algo simples e natural, e ouviremos o Vinde Bendito de Meu Pai!

Quem dera muitos voltassem a se motivar com a rica promessa de termos tão somente a vida eterna, teríamos mais discípulos em Sua obra.

Pr. JAYLSON NOGUEIRA





segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Espiritualidade Cristã e a Cultura Narcisista

POR - Ricardo Barbosa de Sousa

A próxima edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), prevista para maio de 2013, propõe a eliminação da desordem de personalidade narcisista, entre outros transtornos de sua lista. Não se sabe ao certo os motivos. O fato é que, quando um “transtorno” se torna padrão de comportamento de uma cultura, ele deixa de ser patológico.
O comportamento narcisista é definido por um sentimento de autoestima elevado, autoabsorvido, com fantasias de ilimitado sucesso, poder, inteligência, beleza e amor ideal; além da crença de ser “especial” frente aos outros. O narcisista costuma explorar relacionamentos interpessoais e tem uma grande necessidade de ser admirado. Guarda sempre fantasias de grandeza e possui dificuldades de empatia. Para um narcisista, a realidade é concebida apenas dentro de seu universo fechado e egoísta.

A internet tem proporcionado uma infinidade de recursos que promovem o exibicionismo e os falsos relacionamentos. Isso tem mudado o comportamento das crianças e dos jovens. Nesses espaços, enquanto muitos se orgulham dos milhares de “seguidores” (admiradores) em sites de relacionamento, outros têm a oportunidade de tornarem-se celebridades. A nudez, seja das emoções ou do corpo, pode ser exibida para quem quiser ver. Tudo isso eleva o senso de importância e o valor que cada indivíduo acredita ter.

No mundo religioso não é diferente. Líderes precisam ter o “seu” ministério, a “sua” visão, o “seu” projeto. É comum encontrarmos pastores frustrados porque a igreja não comprou a “sua visão”. Uma conversão tem maior valor quando narrada por uma celebridade. A identidade cristã ganha mais credibilidade quando estamos vinculados a uma igreja ou a um ministério que leva o nome de alguém famoso. O espaço para a consciência do outro é cada vez menor, uma vez que sou absorvido com a “minha” necessidade de realização.

O narcisismo como expressão do egoísmo e da autoglorificação é tão velho quanto o pecado original -- “e sereis como Deus…”. Logo depois, o ciúme leva Caim a assassinar seu irmão Abel. A cultura narcisista, fortalecida pelo individualismo, pelo consumismo e pela “divinização” do ser, torna-nos temerosos em relação ao “outro”.

Achamos possível criar uma compreensão da existência humana a partir de nós. A realidade passa a ser aquilo que concebemos em nossa consciência, absorvida por nossas carências e fantasias. Muitos chegam a admitir que Deus é um inibidor e um repressor da liberdade e da realização humanas.

Porém, a afirmação divina de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus revela a mais completa e perfeita compreensão do ser humano. Ela reflete o mistério da Trindade, por meio do qual encontramos tanto a singularidade como a pluralidade. Embora cada pessoa divina seja singular, a identidade de cada uma encontra-se íntima e indivisivelmente ligada ao “outro”. O outro é uma realidade constitutiva do ser humano.

O narcisismo da cultura moderna reflete a realidade do pecado. Muitas desordens mentais têm sua origem no esforço humano de querer viver sem Deus -- de ser seu próprio deus. O apóstolo Paulo descreve assim este quadro: “Porque, mesmo tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; pelo contrário, tornaram-se fúteis nas suas especulações, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21, AS21). Essas pessoas tornaram-se cheias de si, passaram a se admirar mais do que ao Criador, substituíram a verdade pela mentira, e acabaram sendo entregues a toda sorte de desordens mentais e emocionais.

A identidade cristã repousa no batismo. Fomos batizados em um “corpo”. O “eu” solitário e egoísta deu lugar a um “nós” solidário. Não me realizo em mim mesmo, mas no outro, na medida em que me entrego em amor e serviço abnegados. Nenhum membro do corpo existe ou sobrevive por si -- “o olho não pode dizer à mão: não tenho necessidade de ti” (1Co 12.21). Jesus afirmou: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36). Nossa segurança e liberdade não são encontradas no ser autônomo, mas no reconhecimento de Cristo como Senhor e cabeça da sua igreja e na submissão ao seu governo e ao seu povo.

• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.

Retorno 2012

Há um bom tempo estive distante do blog, da manifestação teológica, filosófica, sociológica, eclesiástica entre outras, entretanto, não posso me furtar o dever e a liberdade de expressão. Na trajetória da minha formação, a vida e os relacionamentos, a escola, a igreja e também outros, tem me feito novo a cada oportunidade. Bem, estou de volta a este meio de comunicação. Quero agradecer a todos que me cobraram por este espaço, que possamos continuar crescendo e mudando, como diz o Apóstolo Paulo, que a cada dia nos transformemos pela renovação da nossa mente, pela ação do Espírito Santo.    

terça-feira, 17 de maio de 2011

A cidade edificada sobre o monte - Ed René Kivitz

Este mundo vai de mal a pior, e aqueles que acreditam que o mundo vai melhorar precisam ler a Bíblia outra vez. Ou fazer teologia novamente. Quem acredita que "o dia de justiça, o dia de verdade, o dia em que haverá na terra paz, em que será vencida a morte pela vida, e a escravidão enfim acabará" refere-se às possibilidades de estruturação social está iludido.

A teologia da missão integral da Igreja deu passos significativos para que o assistencialismo evoluísse para a solidariedade emancipadora. Na verdade, a bandeira da responsabilidade social da Igreja levantada pelo movimento chamado evangelical foi além do velho paradigma "dar o peixe e ensinar a pescar" e profetizou a necessidade da transformação das estruturas sociais, isto é, lutar pela igualdade de condições entre os pescadores: instrução a respeito de pescaria, acesso aos apetrechos de pesca e às margens dos rios. A visão sistêmica que compreende a interação entre o indivíduo e a sociedade não dá margem para outra postura que não a implicação social da evangelização. Ponto para os herdeiros de Lausanne.

Os discursos a respeito da Igreja como agência de transformação histórica e os apelos para que as cidades sejam conquistadas para Cristo foram, entretanto, inseridos nas agendas dos políticos cristãos, distorcendo o próprio propósito do Senhor Jesus para sua Igreja e seu Reino. Boa parte da chamada Igreja Evangélica brasileira (cada dia gosto menos desta expressão) padece de um crasso erro hermenêutico, a saber, a transposição simples das promessas do Velho Testamento para o contexto social e histórico atual.

Quero dizer que a promessa de Deus ao povo de Israel ("Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu e sararei a sua terra") jamais pode ser aplicada ao Brasil e significar que a terra a ser sarada é a nação brasileira. Deus tinha um povo, e o seu povo tinha uma terra, um projeto de Estado, uma ética social e uma agenda litúrgica em unidade coerente. Isto é, o povo de Israel, habitando na terra da promessa, organizado num Estado regido pela Lei divina em suas múltiplas dimensões e sujeito ao único e verdadeiro Deus, seria luz para todas as nações.

Hoje, Deus ainda tem um povo: a Igreja (e se você ainda acredita que o povo de Deus é a nação de Israel, leia Gálatas novamente). Mas este povo, a Igreja, não tem uma terra delimitada como espaço geográfico, tipo território nacional. Mais do que isso, quando o povo de Deus fala em "organização social", não está falando de um estado de direito, uma ordem social temporal, mas sim do Reino eterno de Deus. E o Reino de Deus não é um reino a ser instaurado na história, mas sim sinalizado na história.

A Igreja não vive sob a promessa de que a sociedade pode ser sarada. A Igreja vive sob o imperativo de oferecer-se ao mundo como humanidade e sociedade redimida, que se estrutura, de maneira alternativa, e através de suas relações internas anuncia profeticamente o Reino que virá. Como aprendi com os evangelicais, a Igreja é responsável por manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino que será estabelecido ali e além. Mas esta manifestação histórica do Reino de Deus, entretanto, não se dá pela cristianização da sociedade ou, como pretendem alguns, pela tomada do poder temporal pela Igreja Evangélica.

A igreja, leia-se comunidade cristã local, é uma cidade edificada sobre o monte, uma luz na escuridão, que, inserida na sociedade corrompida e vivendo em meio a uma geração perversa, que se opõe a Deus e é inimiga da cruz, funciona como um sinal do Reino que virá. Não se iluda, esperando que o Brasil inteiro um dia fique iluminado. Ele, assim como todo o mundo, continuará em trevas. Mas em meio a estas trevas, viva em comunidade, uma comunidade que "vive o que prega para que possa pregar o que vive".

Isso significa que os cristãos devem se recolher de sua inserção social? Eu não disse isso. Aliás, o Senhor Jesus disse que a luz acesa não pode ser colocada embaixo da cama.



quinta-feira, 14 de abril de 2011

Quem ama sofre pela alegria - Por John Piper (apesar de extenso, vale ler!)

Amar custa caro. O amor sempre inclui algum tipo de autonegação. Ele com freqüência exige sofrimento. Mas o prazer cristão insiste em que o lucro supera a dor. Ele afirma que há raros e maravilhosos espécimes de alegria que florescem apenas no ambiente chuvoso do sofrimento. "A alma não teria arco-íris se o olho não tivesse lágrimas." A cara alegria do amor é ilustrada várias vezes em Hebreus 10-12. Veja esses três exemplos:

Hebreus 10.32-35

Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportastes grande combate de aflições. Em parte fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribulações, e em parte fostes participantes com os que assim foram tratados. Porque também vos compadecestes das minhas prisões, e com alegria permitistes o roubo dos vossos bens, sabendo que em vós mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente. Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão.

Baseado em minha pequena experiência com o sofrimento, eu não teria direito em mim mesmo de dizer que algo assim é possível — aceitar com alegria o saque dos bens. Mas a autoridade do prazer cristão não está em mim, está na Bíblia. Não tenho o direito por mim mesmo de dizer: "Alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo" (IPe 4.13). Pedro pode fazê-lo porque ele e os outros apóstolos foram torturados por causa do evangelho e "retiraram-se da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus" (At 5.41).
Os cristãos em Hebreus 10.32-35 obtiveram o direito de ensinar-nos sobre o amor caro. A situação parece ter sido essa: nos primeiros dias da sua conversão, alguns deles tinham sido presos por causa da fé. Os outros tiveram de enfrentar uma decisão difícil: Devemos nos esconder e permanecer "seguros", ou devemos visitar nossos irmãos e irmãs na prisão e arriscar nossa vida e nossas propriedades? Eles escolheram o caminho do amor e aceitaram pagar o preço. "Vocês participaram do sofrimento dos prisioneiros. E, quando tiraram tudo o que vocês tinham, vocês suportaram isso com alegria" (BLH).

Será que eles saíram perdendo? De forma alguma. Eles perderam bens e ganharam alegria! Eles aceitaram a perda com alegria. Em um sentido eles negaram a Si mesmos. Mas em outro não. Eles escolheram o caminho da alegria. É evidente que esses cristãos foram motivados para o ministério na prisão da mesma maneira que os macedônios (cf. 2Co 8.1 -8) foram motivados a ajudar os pobres. Sua alegria em Deus transbordou em amor pelos outros. Eles olharam para sua própria vida e disseram: "A tua benignidade é melhor do que a vida" (SL 63.3). Olharam para todas as suas posses e disseram: "Temos uma propriedade no céu que é melhor e dura mais que qualquer uma dessas" (v. 34). Depois olharam um para o outro e disseram:

Se temos de perder Os filhos, bens, mulher,Embora a vida vá,Por nós Jesus está,E dar-nos-á seu reino.Martinho Lutero

Com alegria eles "renunciaram a tudo quanto tinham" (Lc 14.33) e seguiram Cristo para a prisão, para visitar seus irmãos e irmãs. O amor é o transbordar da alegria em Deus que atende as necessidades dos outros.

Hebreus 11.24-26

Para gravar bem a lição, o autor de Hebreus cita Moisés como exemplo desse tipo de prazer cristão. Observe como a motivação é semelhante à dos primeiros cristãos no capítulo 10.Pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.

Em Hebreus 10.34 o autor disse que o anseio dos cristãos por uma propriedade melhor e maisduradoura transbordou em amor feliz, que lhes custou suas propriedades. Aqui no capítulo 11, Moisés é um herói para a igreja porque seu prazer na recompensa prometida transbordou em tal alegria que considerou, em comparação, os prazeres do Egito como lixo e dedicou se para sempre ao povo de Deus em amor.

Nada aqui trata de autonegação completa. Ele recebeu olhos para ver que os prazeres do Egito eram "por um pouco de tempo", não eternos. Foi lhe concedido ver que sofrer pela causa do Messias era "maior riqueza do que os tesouros do Egito". Avaliando essas coisas, ele foi induzido a dar a Si mesmo pelo esforço do prazer cristão — o amor. E ele passou o resto dos seus dias canalizando a graça de Deus para o povo de Israel. Sua alegria em Deus transbordou em uma vida de serviço a um povo recalcitrante e carente. Ele escolheu o caminho da alegria máxima, não dos "prazeres transitórios".

Hebreus 12.1, 2

Levantamos acima a questão de o exemplo de Jesus contradizer ou não o princípio do prazer cristão, ou seja, que o amor é o caminho da alegria e que devemos escolhê-lo exatamente por essa razão, para não sermos descobertos recusando obedecer ao Todo-poderoso ou enterrando o privilégio de ser um canal da graça, ou desprezando a recompensa prometida. Hebreus 12.2 parece dizer com muita clareza que Jesus não contrariou esse princípio.

Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o autor e consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.

O maior esforço de amor jamais feito foi possível porque Jesus buscou a maior alegria imaginável, que é a alegria de ser exaltado a direita de Deus na assembléia do povo redimido. "... em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz!"

Em 1978 eu estava tentando explicar algumas dessas coisas a uma classe de estudantes universitários. Como de costume, encontrei vários que eram bem céticos. Um dos mais pensativos escreveu-me uma carta para expressar seu desacordo. Como essa é uma das objeções mais sérias levantadas contra o prazer cristão, creio que será útil para outros se eu transcrever aqui a carta de Ronn e minha resposta.

Dr. Piper,

Discordo da sua posição de que quem ama busca seu próprio prazer ou é por ele motivado. Aceito que todos os exemplos que citou são verídicos: o senhor mencionou muitos casos em que a alegria pessoal é aumentada e pode até ser a motivação para alguém amar a Deus ou outra pessoa. Mas o senhor não pode estabelecer uma doutrina sobre o fato de que algumas evidências a sustentam, enquanto não puder mostrar que nenhuma evidência a contradiz.Dois exemplos do segundo tipo: Imagine-se com Jesus no Getsêmani. Ele está para realizar o supremo ato de amor de toda a história. Você anda até ele, decidido a testar a posição que você tem em relação ao prazer cristão. Esse ato supremo de amor não deveria proporcionar grande prazer, abundante alegria? Todavia, o que é que você vê? Cristo está suando terrivelmente, angustiado, chorando. Não é possível encontrar alegria em nenhum lugar. Cristo está orando. Você o ouve perguntando a Deus se não há saída. Ele diz a Deus que o ato iminente será difícil e doloroso ao extremo. Não há um caminho divertido?

Graças a Deus, Cristo escolheu o caminho difícil. Meu segundo exemplo não é bíblico, apesar de poder ter tirado muitos outros dali. Você já ouviu falar em Dorothy Day? É uma mulher muito idosa que dedicou sua vida a amar os outros, em especial os pobres, deslocados, oprimidos. Sua experiência de amar quando não havia alegria levou-a a dizer isso: "O amor emação é algo doloroso e assustador". Não tenho como não concordar com ela. Eu gostaria de saber que resposta você dá a Ronn

Respondi a Ronn na mesma semana, em dezembro de 1978. Dorothy Day já morreu, mas preservarei as referências como eram na época. Por acaso, hoje tenho em Ronn um amigo, alguém que pensa a fundo sobre a cosmovisão cristã.

Ronn,
Muito obrigado por seu interesse em ter uma posição bem bíblica nessa questão do prazer cristão — uma posição que faça justiça a todos os dados disponíveis. Esse também é o meu objetivo. Assim, tenho de perguntar se seus dois exemplos (Cristo no Getsêmani e Dorothy Day no serviço doloroso do amor) contradizem ouconfirmam minha posição.

1) Vejamos primeiro o Getsêmani. Para que minha tese fique comprovada, tenho de ser capaz de mostrar que, apesar do horror da cruz, a decisão de Jesus de aceitá-la foi motivada por sua convicção de que esse caminho lhe daria mais alegria do que o caminho da desobediência. Hebreus 12.2 diz "... em troca da alegria que lhe estava proposta, [Jesus] suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia". Ao dizer isso, o escritor quer citar Jesus como mais um exemplo, além dos santos de Hebreus 11, de uma pessoa que anseia pela alegria que Deus proporciona e tem tanta certeza de recebê-la que rejeita "o gozo do pecado", que dura "um pouco de tempo" (Hb 11.25), para escolher ser maltratada para não deixar de alinhar-se com a vontade de Deus. Por isso, não é errado dizer que o que sustentou Cristo nas horas escuras do Getsemani foi a esperança da alegria além da cruz.

Isso não diminui a realidade e a grandeza do seu amor por nós, porque a alegria em que ele esperava era conduzir muitos filhos à glória (Hb 2.10). Ele se alegra em nossa redenção, que redunda na glória de Deus. Abandonar a cruz, e com isso a nós e a vontade do Pai, era uma possibilidade tão horrível na mente de Cristo que ele a repeliu e aceitou a morte.

Meu artigo sobre "Satisfação insatisfeita", no entanto lera a esse artigo que Ronn estava reagindo; seu conteúdo foi incorporado nesse capítulo], propõe ainda mais: que em algum sentido muito profundo deve haver alegria no próprio ato de amor, para que este possa agradar a Deus. Você mostrou claramente que, para isso ser verdade no caso da morte de Jesus, tem de haver uma diferença radical entre alegria e "diversão". Todos nós sabemos que isso é verdade.Não é justo que você mude de dizer "não há um caminho divertido" no Getsemani para "não é possível encontrar alegria em nenhum lugar". Eu sei que, naqueles momentos em minha vida em que escolhi fazer as boas ações que mais me custaram, senti (com e sob as feridas) uma alegria muito profunda ao fazer o bem.

Eu imagino que, quando Jesus se levantou da sua última oração no Getsêmani com a decisão de morrer, fluiu por sua alma um sentimento glorioso de triunfo sobre a tentação daquela noite. Não dissera ele: "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4.34)? Jesus gostava de fazer a vontade do Pai assim como nós gostamos de comer. Terminar a obra do Pai era o que o alimentava; abandoná-la seria escolher morrer de fome. Eu acho que houve alegria no Getsêmani quando Jesus foi levado — não diversão, não prazer sensual, nem riso, na verdade nada que esse mundo pode oferecer. Mas havia, no fundo docoração de Jesus, um sentimento bom de que sua ação estava agradando seu Pai, e que a recompensa que viria superaria toda a dor. Esse sentimento profundamente bom é o que capacitou Jesus a fazer por nós o que ele fez.

(2) Sobre Dorothy Day você afirma: "A experiência por que ela passou de amar (os pobres, deslocados e oprimidos) quando não restava mais alegria levou-a a dizer isto: 'O amor em ação é algo doloroso e assustador'". Tentarei responder de duas formas.
Primeiro, não se precipite concluindo não existir alegria nas coisas "dolorosas e assustadoras". Há alpinistas que passaram noites sem dormir escalando montanhas e que perderam dedos das mãos e dos pés por causa das temperaturas abaixo de zero, vivendo momentos horríveis para alcançar o cume. Eles dizem: "Foi doloroso e assustador". Mas se você lhes perguntar por que o fazem, a resposta sempre será esta: "Há uma alegria na alma que proporciona uma sensação tão boa que compensa todo o sofrimento".
Se isso acontece com alpinistas, o mesmo não pode valer para o amor? Não é uma prova de como somos mundanos em nossa tendência de sentir mais alegria em escalar montanhas do que em superar os precipícios do desamor em nossa vida e sociedade? Sim, o amor com freqüência é algo "doloroso e assustador", mas não vejo como alguém que preza o que é bom e admira Jesus pode deixar de sentir uma grande alegria quando (pela graça) pode amar outra pessoa.

Agora deixe-me abordar a situação de Dorothy Day de outra maneira. Imaginemos que eu seja um dos pobres que ela está tentando ajudar com muito esforço. Creio que poderíamos ter o seguinte diálogo:
—Por que a senhora está fazendo isso por mim, Miss Day?
—Porque eu o amo.
—O que a senhora quer dizer com "eu o amo"? Eu não tenho nada a oferecer.Não sou digno de amor.
—Pode ser. Mas não há formulários a preencher para receber o meu amor.Aprendi isso de Jesus. O que quero dizer é que eu quero ajudá-lo porque Jesus meajudou muito.
—Então a senhora está tentando satisfazer seus anseios?
—Você pode colocá-lo nesses termos. Um dos meus anseios mais profundos éfazer de você uma pessoa feliz e com propósito na vida.
—Incomoda a senhora o fato de eu ser mais feliz e ter mais sentido na vidadesde que a conheci?
—Deus o livre dessa idéia! O que poderia fazer-me mais feliz?
—Então, no fundo, a senhora passa todas essas noites aqui sem dormir pelo quea deixa feliz, não é verdade?
—Se eu disser que sim, alguém poderia entender-me mal. Poderia pensar que nofundo eu não me importo com você, apenas comigo mesma.
—Mas, pelo menos para mim, a senhora não concordaria?
—Sim, para você eu digo: eu trabalho pelo que me dá a maior alegria: a sua alegria.
—Obrigado. Agora eu sei que a senhora me ama.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

CHAMADOS PARA SERVIR EM AMOR - Por Ronaldo Bezerra.

“Ele deixou-nos o exemplo para que sigamos suas pisadas...” – I Pedro 2:21.

Deus criou todas as coisas com um propósito específico. No livro de Gênesis 1:16, encontramos a expressão, “o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite”, referindo-se ao sol e a lua. Por fim, criou o homem à sua própria imagem e semelhança, estabelecendo também um propósito bem específico para aquilo que poderíamos chamar de “a obra prima da criação”.
Passado o triste episódio do pecado e com o advento do Messias prometido, o homem é devolvido à condição original, só que agora a semelhança do Cristo, acerca de quem o apóstolo Pedro declarou, “ele deixou-nos o exemplo para que sigamos suas pisadas...”.

Portanto, Jesus é o modelo de tudo o que Deus quer que sejamos. Devemos imitar ao Senhor em tudo. Agindo assim, estaremos cumprindo o propósito criacional divino.

A importância do chamado

O chamado é o começo de tudo. Podemos pensar que ele acontece no momento da conversão ou também após (At 9:3-9). De qualquer forma, é uma experiência marcante e decisiva que muda nossa vida e nossa trajetória.

Há alguns casos bem conhecidos na Bíblia como José, Davi, Abraão, Moisés, Isaías dentre outros, e em todos esses casos houve uma mudança radical na vida e trajetória dessas pessoas, ou seja, eles nunca mais foram os mesmos (Rm 8:30).

Novamente, chama-nos a atenção a pessoa de Jesus. Ele tinha muito clara a visão do seu chamado, a ponto de dizer, “a minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” (Jo 4:34).

De fato, o chamado de Deus para nós torna-se a razão da nossa vida, “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (II Co 5:14-15). “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (I Co 10:31).


A importância de ser servo

Antes de pensarmos em serviço ou ministério, precisamos pensar se somos ou não servos. Infelizmente, essa palavra praticamente caiu em desuso. Quase não se ensina a respeito deste assunto. Por essa razão, a maioria dos cristãos não vivem como servos.

O já falecido presidente Abraham Lincoln disse, “quem não vive para servir, não serve para viver”. No livro dos profetas, Jesus é chamado “o Servo do Senhor”. O evangelho de Marcos também focaliza esse perfil de Jesus. Na condição de servo por excelência, em Mateus 4:10, Jesus faz a citação do primeiro mandamento dizendo, “está escrito: ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele servirás”.

Primeiramente devemos prestar serviço a Deus, e depois aos homens. “... servi-vos uns aos outros pelo amor” (Gl 5:13). O ser servo vem antes do ter um ministério.

A importância do amor

O amor é a essência da vida, é a causa de tudo, é a vida cristã. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito (Jo 3:16). Não é possível pensar em vida cristã sem amor. Uma não existe sem a outra. O amor é a credencial dos discípulos de Cristo.

A ocasião em que mais nos parecemos com Deus, é quando amamos. “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (I Jo 3:16).

Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Quem não ama a seu irmão está morto e não tem vida eterna. Sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os irmãos (I Jo 4:7-8; 3:14).

Jesus foi o maior exemplo de amor. Se definitivamente o imitarmos, o curso da história será mudado. Eu e você fomos chamados para servir em amor. Este é o nosso destino e a razão da nossa existência para a glória de Deus!

Deus abençoe!

Ronaldo Bezerra